Bartolomeu Rodrigues e Jorge Bodanzky. Foto PC Cavera

De volta ao formato presencial diante do público, na telona do Cine Brasília, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro reiterou sua conhecida verve política, levantando discussões no palco e nos próprios filmes exibidos sobre temas urgentes para o Brasil e sua sociedade.

O secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito  Federal, Bartolomeu Rodrigues, fez um discurso inaugural do Festival de Brasília parafraseando um dos versos que ficaram famosos na voz de Gal Costa, que nos deixou recentemente: “É preciso estar atento e forte”. Assim, Bartolomeu reiterou a importância da defesa do estado democrático de direito, contra quaisquer movimentos antidemocráticos. “Ditadura nunca mais”, bradou.

Mestra de cerimônias da abertura do festival, a atriz Bárbara Colen anunciou as personalidades do cinema a serem premiadas na noite. O diretor Jorge Bodanzky, grande homenageado desta edição, recebeu uma medalha por sua obra, lembrando da força de resistência contra o regime ditatorial que o festival e a Universidade de Brasília (UnB), berço do evento, representaram. Em seguida foram agraciados o crítico, pesquisador e curador Hernani Heffner, com a medalha Paulo Emílio Salles Gomes; e o técnico cinematográfico Manoel Messias Filho, com a distinção da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV).

Na telona, o tom poltíco subiu ainda mais. A começar pelo curta “Big Bang” (MG/.RN), protagonizado pelo ator Giovanni Venturini, que discute questões de classe e dos corpos com nanismo. A seguir, Ave Maria (RJ), de Pê Moreira, fala sobre ancestralidade dentro do seio de uma família negra vivendo o luto. O Cine Brasília sobe à máxima temperatura no longa da noite, o incendiário “Mato seco em chamas”, filme ceilandense de Adirley Queirós e Joana Pimenta, que discute o lugar das pessoas presas em regime aberto e as tensões políticas e de classe entre Sol Nascente e Plano Piloto. Todos os filmes foram ovacionados pelo público.

Mostra Nacional: programação desta terça-feira

Foto do curta Anticena

No segundo dia da Mostra Competitiva Nacional, o 55º Festival de Brasília apresenta filmes de três regiões do Brasil. A sessão abre com o curta-metragem “Nossos passos seguirão os seus”, do Rio de Janeiro. O filme de Uilton Oliveira acompanha a trajetória de Domingos Passos, um militante anarquista apagado da história oficial do movimento operário brasileiro. Na sequência, o curta-metragem brasiliense Anticena, de Tom Motta e Marisa Arraes, traz uma documentarista que retrata o processo artístico de um entregador que faz filmes durante o turno de serviço.

A noite encerra com o longa-metragem pernambucano “Espumas ao Vento”, de Taciano Valério. A produção narra a história de duas irmãs que convivem com as consequências de uma tragédia ocorrida durante um espetáculo artístico.

A sessão começa às 20h30, no Cine Brasília, com ingressos a R$ 20 (inteira). A bilheteria abre às 18h. Nos Complexos Culturais Samambaia e de Planaltina, a entrada é franca (sujeita à lotação das salas), e as sessões se iniciam às 20h.

Mostra Brasília reúne 12 produções do DF

Foto do filme Capitão Astúcia

Na tradicional Mostra Brasília, uma seleção de quatro longas e oito curtas-metragens produzidos no Distrito Federal disputam 13 prêmios, a serem concedidos pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, que retoma com o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2022, uma parceria de décadas.

Na sessão de hoje, estará em cartaz no Cine Brasília, gratuitamente, às 18h, os curtas-metragens “Super-heróis” (foto), de Rafael Andrade, e “Desamor”, de Herlon Kremer, abrirão a mostra, seguido pelo longa “Capitão Astúcia”, de Filipe Gontijo.

Os filmes eleitos pelo júri oficial e o júri popular receberão um total de R$ 240 mil em dinheiro, além do Troféu CLDF. A comissão de seleção de filmes é formada pelo produtor Sidiny Diniz, o publicitário Allyson Xavier, a produtora Simônia Queiroz, o cineasta Péterson Paim e o curador e crítico Sérgio Moriconi.

 Mostra Reexistências une narrativas do passado e do futuro

Foto do filme O Cangaceiro da Moviola

Além das mostras competitivas, o Festival de Brasília também se torna uma janela de exibição de outras obras que mostram a diversidade de linguagens do cinema brasileiro. A primeira mostra paralela a abrir para o público nesta 55ª edição é a Reexistências. De hoje (15) a 18 de novembro, quatro longas-metragens exploram narrativas do presente e do passado, refletindo diversas formas de expressão.

Com inicio às 16h, o título mineiro-fluminense “O Cangaceiro da moviola”, de Luís Rocha Melo, homenageia o montador de cinema pernambucano Severino Dadá, um baluarte da filmografia brasileira, enquanto repensa a dominação da produção sudestina ante os eixos de produção audiovisual nacionais.

Nos dias seguintes serão exibidos o carioca “Não é a primeira vez que lutamos pelo nosso amor”, de Luis Carlos de Alencar, que aborda a perseguição contra a população LGBTQIA+ durante a ditadura militar brasileira. Do Amazonas, “Uýra – A retomada da floresta”, de Juliana Curi, conta a história de uma artista trans indígena em sua jornada de autodescoberta. Por fim, o paraibano “Cordelina”, de Jaime Guimarães, se apresenta como roadmovie a explorar o universo feminino e as memórias a partir de personagem em peregrinação entre Pernambuco e Paraíba.

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